Suellen Pagotto dos Santos*

Gostaria de compartilhar com vocês uma experiência vivida por mim, no dia 28/07/2011.

Quem se lembra da famosa e conterrânea histórica da nossa cidade de Afonso Cláudio, Sebastiana do Rosário? Muito conhecida como “Bastiana Fogo”, essa mesma! Aquela moradora de rua brava que vivia com seu pauzinho fazendo movimentos repetitivos, como se estivesse benzendo. Pois é gente, o meu facebook “bombou” quando uma visitante colocou na rede social que tinha presenciado a idosa pintada e preparada para a Festa Junina da ILP* do Município, eu como membro da equipe da ILP, não poderia deixar de convidar os curiosos, na qual de uma forma “singela” duvidou de sua existência ainda.

Vou relatar um breve histórico de vida da idosa:

Sebastiana do Rosário,nascida em 10/03/1915,  96 anos, natural de Afonso Cláudio, negra, analfabeta, foi andarilha desde sua juventude, a mesma tinha o costume de usar uma “varinha”, que acredito ser para sua defesa pessoal, uma vez que algumas pessoas implicavam com ela. Suas eliminações fisiológicas eram feitas dentro de uma latinha velha ou em beiras de rio, muito supersticiosa não aceitava alimentos de qualquer forma e de qualquer um. Há quem se lembre desses episódios de tristeza ainda né?!  Impossível apagar da memória tão fácil tal situação.

A idosa foi admitida na ILP dia 03/04/2008, sua adaptação, confesso a vocês, não foi nada fácil, pois Sebastiana não conseguia deitar na cama para dormir, porque por um longo período dormiu curvada nos bancos da rua. Suas eliminações fisiológicas eram feitas em qualquer lugar da Instituição...corredores, quartos, salas e refeitório. Retirar sua tão companheira “varinha”, nem preciso comentar o quanto lutamos para conseguir isso, quanta dificuldade, mas conseguimos.

Hoje posso contar para vocês que a idosa dorme em sua cama, não mais utiliza sua varinha, vai até o refeitório para se alimentar, toma banho diariamente, vai ao banheiro para suas eliminações, e uma coisa super interessante, ela arruma seu guarda roupas quase todo dia (risos).

Na época de adaptação contamos com outra andarilha (do município de Castelo) para ajudar na adaptação, segundo Psicóloga consultada, isso contribuiria muito para sua adaptação; e foi. Hoje as 02 são companheiras e inseparáveis.

Conseguir tirar a “Chica”(apelido na Instituição)  de dentro da “casa dela”(como ela se refere a Instituição aos visitantes) é quase impossível, ela só vai até a lixeira da rua e volta, e somente com uma funcionária, a mesma que conseguiu a façanha de pinta la.

Acho interessante compartilhar com vocês essa experiência, de uma mulher sofrida, que viveu uma vida toda sem teto e mesmo assim, hoje, consegue transmitir para as pessoas a alegria de estar viva.

E isso nos leva a refletir que apesar de tudo, VIVER vale a pena.

E vamos torcer para que a nossa “Chica” chegue ao centenário!Pois esta quase ne?!

*ILP= Instituição de Longa Permanência.

 

*Enfermeira, especialista em Saúde da Família e cursista em Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça.

Imagens autorizadas

para uso, pela Institução.